segunda-feira, 30 de junho de 2014

Ausência



há caminhos a trilhar
mas não há vontade alguma
de seguir em frente.
há flores e rosas a cheirar
mas não há vontade alguma
em sentir novos cheiros.

há coisas a se fazer
mas para que fazê-las
se o amanhã distorcerá
a realidade que já é distinta
das que vejo por aí?

há tantas perguntas a se fazer
mas para que respondê-las
se há sempre reticências no final?

há livros a se escrever,
poemas a se recitar
mas falta vontade, eu penso
já que o destino é meu encarregado
de apagar meus feitos
tornando-os defeitos.

há um castelo a se construir
mas não há pedras
o suficiente
para ao menos tentar
e não roubarei pedras 
dos castelos vizinhos
pois esses não se encaixam
no que sonho em construir.

havia um vilarejo todo ao meu redor
que agora não passa de destroços
e pedras jogadas
e ossos quebrados.
o fedor da podridão
atinge minhas narinas
me fazendo pensar
o que diabos estou fazendo aqui?

penso se algum dia haverá
um novo povo a se contentar
com meu trabalho humilde
mas escravo.
sou empregado da solidão
e meu dever é escrever.

a muralha que há em volta
protege minhas poucas conquistas
e quem passa de longe vê
que, embora haja tantos portões abertos
ninguém ousa mais entrar.

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