terça-feira, 5 de agosto de 2014

Fim



O cigarro que insistia em permanecer aceso
Era o último da caixa.
Parado no apartamento escuro
Olhava através da janela
A escuridão da noite.

Em meio à tantos papéis amassados estava
Resultados de tentativas falhadas
Em escrever palavras que nunca serão lidas.
Tentou uma última vez, numa última folha
E o nomeou: “Lixo”.
Mas acabou sendo apenas um espelho de como se sentia.

Tentou escrever bonito, caprichado
Mas de bonito nada ali havia,
Apenas arrependimentos e decepções.
Acabou riscando tudo
Deixando apenas uma palavra à tona:
“solidão.”

Olhou da janela o nada, encarando o chão
Lembrou-se das silhuetas humanas
Que passavam naquela calçada
Todos os dias.
Desejou ser um deles.

Voltou a encarar o chão, com certa dificuldade
Achando-o cada vez mais atraente.
Trêmulo com o cigarro ainda aceso na mão
Começou mais um poema, em meio às rasuras
E o nomeou: “Fim”.
Mas não precisou terminar. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário