quarta-feira, 23 de julho de 2014

A vida é melhor do que a própria vida






Enquanto crianças foi nos dito que de algum modo nos tornaremos o que não somos, sacrificando o que somos ao herdar um disfarce do que seremos. Aceitar a identidade que outros nos dariam.
Creio hoje que essa seja a principal razão de haver tão poucas pessoas corajosas o suficiente para aguentar a pressão e nunca desistir dos sonhos. Sim, aqueles sonhos de criança.
Quando eu era criança, meu sonho era ir para um parque de diversões que sempre passava na televisão. Eu chegava a sonhar acordado imaginando como seria ter um dia inteiro para me divertir. E então, eu cresci, os donos do parque morreram e o parque faliu. Eu nunca consegui realizar esse sonho.
Não parece, mas essa pequena decepção faz parte do enorme vazio que sinto quando penso em ser um escritor. Desde pequeno fui ensinado que devemos sonhar grande, mas apenas com certas coisas. Aparentemente não se pode simplesmente sonhar em ser um artista. Não há estudos para isso. É enfiado em nossa cabeça contra nossa vontade informações que não precisamos, enquanto deveríamos apenas praticar nossa criatividade.
Quando crescemos, vamos perdendo a oportunidade de viver os tantos sonhos que tivemos quando crianças. Isso vai nos tornando seres humanos cada vez mais egoístas por não achar que podemos realmente ser o que queremos. Muitos passam a vida toda trabalhando em um escritório, quando na verdade queriam desenhar. E, se perguntados por quê não tentar uma carreira como artista, respondem estar velhos demais, ou com uma vida "boa" demais para seguir antigos sonhos. É só um exemplo, é claro, mas é isso que mais me entristece. Aceitamos sermos julgados o tempo todo. Somos forçados a ter uma vida que às vezes para alguns não parece tão interessante, porque não temos outra escolha. O quão difícil é ser um artista hoje em dia? O quão difícil é acreditar em si mesmo, apesar de todos dizendo o contrário, te deixando para baixo? Somos melhores que isso. Deveríamos ser.
Ficamos tão ocupados querendo provar nossa vida inteira para outros que somos melhores do que outros, que esquecemos o que realmente importa... A felicidade. Não é possível ser feliz sozinho. Se alguém lhe disser o contrário, é porque nunca conheceu o tamanho da felicidade que existe dentro de nós e o quanto é satisfatório ajudar o próximo.
Se todos se unissem para trazer a felicidade uns aos outros, viveríamos em perfeita harmonia. Mas não. Somos educados para que sejamos os melhores, para que saibamos de tudo, pelo menos um pouco, e acabamos vivendo em uma eterna guerra de valores onde um tem que se provar melhor que o outro, o tempo todo.
A vida está errada.
Viver não se trata de ser melhor do que ninguém, ou de ter uma boa vida. Viver se trata de realizar o maior número de sonhos possíveis, antes que o tempo sugue todos eles e nos tornemos máquinas rotineiras.
A vida é melhor do que nos é contado. Tem que ser.

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