Ali estava, sentado com seu traje à rigor. Gostava de usar
ternos e fingir que era sociável. Verdade era que mal saía de casa, era um
fugitivo da prisão de sua própria mente.
Naquela noite de sábado, pouco havia a se fazer se não abrir
aquele vinho há muito parado no mesmo lugar da adega, esperando para ser aberto
em um dia de melancolia e não poderia haver dia melhor.
Ao abrir a garrafa e ouvir o barulho do líquido bater contra
o vidro fino da taça de cristal que diferença alguma fazia, percebeu que
gostaria muito de encher mais uma taça, para mais uma pessoa. Maldita
melancolia que o fazia querer estar na companhia de alguém. Pensou em chamar,
em se humilhar por uma simples companhia na noite. Pensou até em pagar por
isso, mas uma noite forrada em lembranças parecia ser melhor do que uma
terminada em sexo barato. Preferiu apenas guardar a segunda taça.
Caminhou até seu sofá esbelto, tecido da melhor qualidade
que, ainda sim, parecia tão desconfortável. Nada parecia bom o suficiente.
Pensou naquela clássica frase que diziam: “dinheiro não compra felicidade!”, e
nunca havia feito tanta razão. Havia do bom e do melhor em seu apartamento em
um bairro luxuoso numa das mais belas cidades já construídas pelo homem e,
mesmo assim, faltava algo. Odiou o ser humano por depender tanto de algo tão
simples: companhia. Lembrou de quando era criança e diziam que nunca iria
conseguir ser nada nem ninguém e quando invejava todos eles por sair tanto, por
viver tanto. Trabalhou duro para ter dinheiro o suficiente para esfregar na
cara de todos que diziam que ele não conseguiria, mas ninguém mais ligava para
isso, nem lembrava, pois estavam ocupados demais criando seus próprios filhos. Enquanto
ele havia feito a diferença, criando e financiando ONGs para tentar ser alguém
de valor, no fim da noite, continuava sendo ninguém, apenas desejando ser o que
ele nunca havia sido: amado.
Coitado. Havia cometido o erro de achar que ser alguém
relacionava à ter dinheiro o suficiente para mudar o mundo. Ninguém ligava mais
para isso. Num mundo egoísta desses, ser recebido de braços abertos por uma
esposa fiel após chegar de um trabalho escravo em algum escritório já era mais
que uma conquista: era uma dádiva. Coitado, entendeu isso tarde demais.
Desejou ter tido mais tempo para a família que, hoje, nem
mais lembrava aonde residiam; desejou ter abraçado mais e feito mais besteiras;
desejou não ter estudado tanto e ter apenas entendido que o que nos mantém vivo
é a vontade de ser visto, de ser notado. Desejou tudo, mas no fim, tudo que
pôde fazer foi tomar mais um gole de vinho.
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